A Arte de Cultivar Paz Interior em Tempos Difíceis
A resposta vem de dentro: encontrando o equilíbrio e a calma mesmo quando tudo está desabando
Estou necessitado de paz interior!
A vida me puxa, empurra, estica e afrouxa todos os dias, e isso me leva a lugares novos dentro de mim.
Lugares que testam a minha paciência e persistência comigo mesmo e com as outras pessoas e situações.
Acostumado a meditar e a tocar a minha tigela de cristal de quartzo, estava lidando até que bem com todos os desafios atuais da vida.
Mas agora as coisas se intensificaram, por todos os lados, e parece que estou perdendo de vista a paz interior.
Escrever esse artigo foi uma forma que encontrei de iluminar esse caminho.
Vamos juntos?
A paz interior depende de quem?
O princípio 8 da cura das atitudes1 diz:
Podemos nos direcionar para a paz interior independente do que está acontecendo no exterior.
Quando olhamos de forma honesta para o mundo, para a nossa realidade atual, não podemos fechar os olhos e fingir que nada está acontecendo.
A realidade está aí, com o ódio e a discriminação crescente, usando como veículo as fake news espalhadas pelas redes sociais. Tudo isso começa com uma pessoa, que se une com outra, forma um grupo e cria narrativas que separam e nos colocam uns contra os outros.
Aqueles que tem um pouco de discernimento perguntam a si mesmos: “Como posso me direcionar para a paz interior num ambiente tão hostil e de tanto estresse?”
Para responder a essa pergunta tão profunda, em primeiro lugar nos lembramos do princípio, que afirma que “podemos nos direcionar para a paz interior”, ou seja, é possível, mesmo em um mundo insalubre como o nosso, direcionar os nossos esforços rumo a verdadeira paz interior. Só isso já é um ato de fé gigantesco.
Outros já vieram antes de nós e provaram que isso é possível. Grandes mestres e mestras que demonstraram na prática, na sua própria vida, que é possível escolher a paz interior mesmo em meio ao caos e ao sofrimento. No final do artigo você conhecerá algumas dessas pessoas.
“Quem manda na minha casa sou eu. Quem toma as decisões aqui sou eu. Não importa o que aconteça, eu sempre posso escolher como responder ao ocorrido.”
Como eu esqueço dessa verdade! E sempre isso acontece, eu culpo a outra pessoa ou situação. Se eu não estiver atento, essa sempre será a resposta automática.
E todas as vezes que respondemos dessa forma automática, colocamos nosso poder de escolha literalmente na mão da outra pessoa ou situação. Isso é o inferno: o que a outra pessoa faz determina o que sentimos. Se ela está bem, nós estamos bem. Se ela está mal, ficamos mal.
Quando isso acontece, nossa paz interior não depende mais de nós, e sim do outro.
Quando acordamos para a realidade, não é isso que queremos.
Queremos exercer o nosso poder de escolha, vendo situações desafiadoras sob novos ângulos e perspectivas diferentes.
Podemos ver o amor ao invés do medo, em qualquer situação.
Usar a lente certa
Desde o meu início na cura das atitudes, em 1998, um ensinamento muito simples me tocou profundamente:
Estamos o tempo todo lidando com pensamentos que podem ser classificados em apenas dois sistemas: um que é baseado no amor e o outro no medo. Eles são excludentes - onde um está, o outro é ausente.
No sistema de pensamento baseado no amor estão incluídos todos os pensamentos que nos unem, que celebram a nossa diversidade, que geram respeito mútuo e que perdoam.
Já o sistema de pensamento baseado no medo é o sistema de pensamento do ego, que cria separação, conflitos, falta de aceitação e respeito. É o sistema que se baseia em julgamentos e preocupação com o passado e futuro.
É ele o responsável pela forma de pensar que aparentemente tem ganhado muitos adeptos atualmente ao redor do mundo: “nós contra eles”, a origem dessa polarização raivosa que se espalha como fogo num palheiro.
Os tempos atuais pedem muita presença e discernimento.
Estar presentes no agora permite lembrar que temos a escolha de usar a “óculos do amor” em qualquer interação que temos, seja com uma pessoa real ou com os fatos do dia a dia.
É fácil? Ufa, claro que não é. Requer muito trabalho interior. A disposição de olhar para dentro e encarar umas verdades duras.
Não é nada fácil olhar através dessa lente quando somos traídos, quando alguém nos trata de forma violenta com as palavras, ou quando somos ignorados, especialmente quando é uma pessoa próxima.
Porém, é a única saída para restaurar a paz da nossa mente.
Quando treinamos olhar para situações estressantes usando o “óculos do amor”, novas possibilidades se abrem, e a paz interior fica mais próxima.
Se não fizermos isso, continuaremos investindo em mudar o outro, perpetuando um ciclo de conflito e não aceitação que nos causará muito mal.
A raiva é um veneno que injetamos em nós mesmos pensando que nosso ataque ao outro é justificado, e que faremos mal a ele.
Amar não significa ser passivo
Olhar uma situação através da lente do amor não significa que concordamos com ela ou que nos submetemos ao que ultrapassa os nossos limites pessoais de dignidade e respeito.
Nossa herança patriarcal, geradora de toda essa masculinidade tóxica que hoje se espalha como uma praga, diz que amar é sinal de fraqueza e passividade.
Nada mais longe da verdade! Amar nas adversidades da vida é sinal de força e de coragem.
Eu tenho uma situação assim com uma pessoa muito próxima. Foi só quando percebi que certos limites haviam sido ultrapassados que tive forças para dar um basta na relação. No entanto, apesar de atualmente não nos falarmos, eu a mantenho no meu coração, sem julgamento, e enviando amor para ela.
Saber colocar limites é amar, e isso as vezes significa abrir mão do relacionamento como ele está.
Usar o “óculos do amor”, que eu considero a lente certa para todos os momentos, é uma forma de ver o mundo que ajuda a praticar o perdão e a viver uma vida mais saudável, em todos os sentidos.
Paz interior é meu único objetivo
Essa é uma declaração radical, revolucionária.
Se todos a praticassem, o mundo seria muito diferente do que é hoje.
Se eu a praticasse de modo consistente na minha vida, ela seria diferente do que é hoje.
Eu só não sou mais feliz porque eu esqueço de que a paz interior é o meu único objetivo. Na verdade muitas vezes eu duvido disso.
Troco esse objetivo por outros, como pagar as contas do final do mês, ser reconhecido ou trocar de carro. Eles tornam-se meus “deuses”, e quando eu não consigo realizá-los, eu me frustro, perdendo a minha paz interior.
Não estou dizendo com isso que não deveríamos sonhar os nossos projetos pessoais e profissionais. Digo apenas que se os sonharmos sem a busca da paz interior, será muito mais difícil de realizá-los.
Corremos o perigo de achar que é impossível encontrar essa paz no meio do caos, ou de que temos que fazer todas as coisas que queremos antes para depois desfrutar da tão almejada paz.
Por isso temos que colocar a sua busca em primeiro lugar. Quando fazemos isso, a tendência é que as coisas fiquem mais fáceis, e que nossos projetos se realizem (ou não) de forma natural.
Siga o que enche seu coração de alegria e o universo abrirá portas onde antes só existiam muros.
Joseph Campbell
As lições de vida de quem conseguiu
Como humanos que somos, temos o privilégio evolucionário de aprendermos uns com os outros.
Seres humanos como nós, mas que viveram vidas de sofrimento extremo, e que confiaram em si mesmas, em Deus, numa Mente Superior, como queira, e mostraram que é possível passar através do sofrimento e escolher a paz interior.
Vamos conhecer algumas delas, aquelas que possuem história registrada. Quero aproveitar para honrar e agradecer a todas as outras, que de forma anônima contribuíram para nos lembrar do poder do amor.
Ao final do breve resumo de quem é a pessoa, faço quatro citações para cada uma delas. Sugiro que você respire fundo, leia com calma cada uma delas, permitindo que a vibração das palavras ressoe lá dentro de você. São frases de grande poder.
Viktor Frankl
Viveu três anos em quatro campos de concentração diferentes durante a Segunda Guerra Mundial. Sofreu com frio, fome, tortura e maus tratos. Quando retornou, soube que havia perdido sua esposa grávida, seus pais e seu irmão. Para lidar com a dor, começou a escrever. Foi quando nasceu seu livro mais famoso: “Em Busca de Sentido” (Man´s Searching for Meaning). Nesse livro ele desenvolve a ideia de que o ser humano pode encontrar significado na vida mesmo nas piores circunstâncias, pois foi o que ele mesmo fez e viu outros poucos fazerem nos campos de concentração. Morreu em 1997, após viver uma vida plena, fazendo palestras ao redor do mundo e demonstrando que é possível alcançar a paz interior não importa o que esteja acontecendo fora.
“Quando a situação for boa, desfrute-a. Quando a situação for ruim, transforme-a. Quando a situação não puder ser transformada, transforme-se.”
“Entre o estímulo e a resposta, existe um espaço. Nesse espaço está o nosso poder de escolher nossa resposta. E na nossa resposta reside o nosso crescimento e a nossa liberdade.”
“Tudo pode ser tirado de um homem, exceto uma coisa: a última das liberdades humanas — escolher a sua atitude em qualquer circunstância.”
“Mesmo nas piores situações, o ser humano ainda é capaz de elevar-se acima de si mesmo, crescer além de si próprio e encontrar um significado.”
Nelson Mandela
Passou 27 anos preso, sendo 18 em condições desumanas em um presídio isolado e de segurança máxima. Cela de 2x2 dormindo no chão, comida péssima e trabalho forçado eram as condições em que ele viveu todos esses anos. Seu senso de sentido e propósito estava vivo dentro do seu coração, e usou o tempo na prisão para se tornar um líder, um verdadeiro líder. Saiu sem ressentimento no coração, mais forte, mais sábio e mais amoroso em 1990, e quatro anos depois tornou-se presidente da África do Sul, levando o país a união e vencendo o apartheid, o regime de segregação do qual ele foi vítima. É um símbolo de que é possível resistir sem perder a paz interior.
"Pessoas corajosas não têm medo de perdoar, pelo bem da paz."
“Ao sair pela porta rumo à minha liberdade, sabia que, se não deixasse minha amargura e meu ódio para trás, ainda estaria preso.”
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.”
“Não há nada como regressar a um lugar que está igual para descobrir o quanto a gente mudou.”
Martin Luther King
Nasceu em 1929 e cresceu em um ambiente religioso, em meio a segregação racial que os negros norte americanos sofriam naquela época. Formou-se em sociologia e teologia, e em 1955, no famoso episódio de Rosa Parks, Luther King teve seu primeiro momento como ativista. Inspirado em Mahatma Gandhi, acreditava que a luta deveria ser realizada com coragem, não violência e amor. Foi preso inúmeras vezes e liderou durante anos protestos e marchas pacíficas pregando a liberdade. Cercado por ódio, discriminação e violência de todos os tipos, Luther King era o maior representante de uma resistência pacífica e amorosa. Ganhou o Nobel da Paz em 1964 e foi assassinado em 1968, aos 39 anos, em Memphis, durante um protesto.
"Qualquer lei que eleva a personalidade humana é justa. Qualquer lei que degrada a personalidade humana é injusta. [...] Devemos nos levantar por meio do sofrimento criativo, continuando a pressionar pela justiça."
“A não-violência não é passividade. É uma força poderosa que transforma.”
“Decidi amar. O ódio é um fardo pesado demais para suportar.”
“Eu tenho um sonho de que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença: ‘Consideramos essas verdades como autoevidentes: que todos os homens são criados iguais.’”
Etty Hillesum
Jovem holandesa de origem judia que viveu em Amsterdã sob a ocupação nazista. Nesse período começou a escrever um diário, inicialmente para registrar o dia a dia, mas que com o tempo se tornou uma forma de conexão com Deus que a manteve firme durante os tempos mais sombrios. Voluntariou-se para ajudar em um campo de trânsito chamado Westerbork, onde confortava as pessoas com seu profundo amor enquanto eram deportadas para os campos. Relatou sua experiência dessa época escrevendo cartas para os amigos, e junto com o diário são os dois únicos livros que escreveu.2 Em 1943, aos 29 anos, ela é deportada, junto com seus pais e um de seus irmãos, para o campo de Auschwitz, onde é executada.
“O sofrimento exigiu sempre o seu lugar e os seus direitos, e tem sinceramente alguma importância a forma que ele toma? O que interessa é o modo como as pessoas o carregam e se uma pessoa lhe sabe dar espaço, continuando porém a aceitar a vida.(...)”
“Bem, podemos às vezes sentir-nos tristes e abatidos por causa daquilo que nos fazem, isso é humano e compreensível. Porém, o maior roubo que nos é feito somos nós mesmos que o fazemos.”
“Mesmo aqui, nesta prisão, a vida é bela... Quero viver a vida até o último momento, com o coração cheio de amor.”
“Eu acho a vida bela e sinto-me livre. Os céus dentro de mim são tão vastos como os que estão por cima de mim... Não sinto que esteja nas garras de ninguém, só sinto estar nos braços de Deus - para dizer isto de um modo muito bonito - e, seja aqui à beira desta secretária que me é muitíssimo querida e familiar ou daqui a um mês num quarto despojado no bairro judeu, ou talvez num campo à guarda das SS, acho que irei sentir-me sempre nos braços de Deus. E pode ser que consigam arrasar-me fisicamente, mas mais do que isso não. E talvez caia em desespero e sofra privações que nem nas minhas fantasias mais delirantes eu consiga imaginar. E contudo tudo isto é muito relativo comparado com a vastidão incomensurável da confiança em Deus e da capacidade de vivência interior.”
Para finalizar
Nossa, foi um bálsamo escrever essa edição da news.
Finalizo com meu coração alegre.
Reavivei conceitos importantes que ficaram ainda mais firmes no meu coração, e reafirmei o meu compromisso com a paz interior.
E ainda recebi um grande presente, que foi conhecer melhor Viktor Frankl, e especialmente Etty Hillesum, que para mim foi um tesouro. Já estou lendo seu “Diário”.
E acredito que ao final ainda ganhei aquele pouquinho de paz interior que pedia no começo do artigo. Afinal, “dar e receber são a mesma coisa”.
Grato a você que chegou até aqui.
Com Amor,
Luiz Pontes
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REFERÊNCIAS
A cura das atitudes é uma abordagem psicoespiritual baseada em 12 princípios e que ensina sobre a paz interior e o perdão. Saiba mais aqui.
"Uma Vida Interrompida: O Diário de Etty Hillesum 1941–1943" e “Cartas de Westerbork"