Como Investigar Pensamentos Estressantes
ou sobre como se dar conta que a chave para a nossa liberdade interior está nas nossas próprias mãos
INTRODUÇÃO
Como prometido, estou aqui para contar uma experiência pessoal aplicando o “The Work” em um relacionamento real, com uma pessoa próxima, cujo nome fictício é Darci.
Para quem não leu o artigo anterior, peço que antes o leia aqui para contextualizar.
Foi uma experiência bastante estressante, cujo ciclo de resolução durou aproximadamente dois anos. Por mais que eu aplicasse as quatro perguntas e fizesse as inversões, a situação era bastante complexa e exigia um trabalho “por camadas”, e foi evoluindo pouco a pouco.
Uma coisa é “compreender” a situação a partir da mente. Outra, bem diferente, é fazer a conexão da mente com o coração. Quando conseguimos fazer essa conexão, temos clareza junto com compaixão, o que também pode ser chamado de perdão.
Antes de passar por esse processo, eu julgava a Darci frequentemente, de várias formas diferentes. Não conseguia entender o comportamento dela e a culpava por muitas coisas, ou me sentia culpado por algo que tinha (ou não) feito.
Depois desse tempo, quase dois anos, finalmente aconteceu a ligação da mente com o coração, e o que se segue é a descrição detalhada de como eu apliquei as quatro perguntas e as inversões em um dos momentos decisivos do relacionamento.
Como sou praticante assíduo do método há anos, acabei desenvolvendo um personagem fictício, “alguém” na minha mente que eu chamo de “eu investigador”. Ele é quem faz as perguntas, como se fosse o meu “grilo falante”.
A partir daqui ele fica com a palavra, e vai facilitar o “The Work” com o Luiz (que sou eu).
DIÁLOGO DE FACILITAÇÃO
Eu Investigador: Vamos então começar a nossa investigação. Para isso eu lerei a primeira pergunta que você respondeu no questionário. Depois você leia em voz alta a sua resposta e começamos o “bate bola”. Vou pedir encarecidamente que você sempre tenha em foco a resposta exata e literal, para todas as interações que se seguirão. Então vamos lá:
De quem você não gosta? Quem te irrita, entristece ou desaponta? Por quê?
Luiz: “Eu estou chateado, desapontado com a Darci porque ela foi injusta comigo.”
Pergunta 1
Eu Investigador: Isto é verdade? Por favor receba a pergunta, respire algumas vezes e depois responda apenas com SIM ou NÃO.
Luiz: Sim.
Eu Investigador: E quais são as provas de que isso é verdade?
Luiz: Um dia em uma ligação ela tentou me manipular, colocando culpa em mim. Ela afirmou algo que não tinha conhecimento, fez um julgamento sumário, quase um golpe baixo. Foi muito injusta comigo.
Pergunta 2
Eu Investigador: Você tem certeza absoluta que você está desapontado com a Darci porque ela foi injusta com você? Como você pode estar 100% certo à respeito disso? Como na pergunta anterior, respire, dê um tempo e depois responda com SIM ou NÃO.
Luiz: Não. Não tenho certeza absoluta, porque é impossível saber ao certo o que se passa na cabeça da outra pessoa. O “injusto” é por minha conta, eu fiz a leitura dessa forma. Pode ser que ela esteja se sentindo “a justa”, porque ela também tem a sua forma particular de ver o mundo e pode perfeitamente se achar justificada nessa situação. Então não, eu não tenho certeza absoluta de que estou chateado com ela por esse motivo. Pode ser outra coisa completamente diferente.
Pergunta 3
Eu investigador: O que você sente quando tem esse pensamento “Darci foi injusta comigo?” Consegue localizar em que lugar do corpo você “sente” esse sentimento?
Luiz: Quando eu me sinto injustiçado a vítima vem junto. Eu sou aquele que pode ser atacado e que portanto tem que se defender. Isso me estressa e me deixa infeliz. Também sinto raiva, um tipo de inconformismo “como essa pessoa pode ser assim tão insensível?” Os pensamentos ficam confusos e vem um sentimento de culpa que não consigo explicar. Pega aqui na área do peito, do coração, sinto um aperto. Um lado meu quer gritar, xingar, até bater; mas o outro lado sabe que esse não é o caminho. Resumindo: quando tenho esse pensamento fico totalmente desequilibrado. Isso não é sustentável.
Eu Investigador: Você consegue identificar pelo menos um motivo que faça valer a pena manter esse pensamento?
Luiz: Não. Como o efeito imediato desse pensamento é elevar o estresse, fica claro que não existe razão para mantê-lo (apesar da minha teimosia em querer o contrário).
Eu Investigador: E você gostaria realmente de abandoná-lo? E veja que eu não estou pedindo que faça isso!
Luiz: Sim, quero muito abandoná-lo, para experimentar mais liberdade interior.
Pergunta 4
Eu investigador: Quem você seria sem esse pensamento? Quais sentimentos estariam dentro de você? Feche os olhos por alguns segundos e imagine quem você seria, se esse pensamento não existisse para você, e Darci continua fazendo a mesma coisa, ou seja, sendo injusta com você.
Luiz: Uma pessoa muito mais leve, que não carrega mais o peso da culpa e da necessidade de se defender ou atacar. Uma pessoa mais aliviada da pesada sacola que estava carregando, e que não é minha. Eu apenas acreditei na história de que a Darci me atacou, sendo injusta comigo. E melhor ainda, ela não precisou mudar nadinha do jeito de ser. Ela continua a mesma. mas sem esse pensamento, não existe mais necessidade de atacar ou sentir culpa. Não existe mais a vítima, e nem o vilão. Não existe culpado, e tudo fica mais leve e fluído.
AS INVERSÕES
Eu investigador: Faça as inversões e sinta-as. Leia a sua resposta e feche os olhos por alguns segundos. Permita que a inversão penetre em você. Não julgue, apenas receba-a. Não estamos tratando aqui de julgamento moral, mas de apenas olhar a realidade de frente.
Dê tempo para que ela ressoe (ou não dentro de você). Se ressoar, aproveite a lição. Se não, descarte-a.
Luiz:
Inversão 1
“Eu não estou chateado, desapontado com a Darci porque ela foi injusta comigo.”
Quando eu fechei os olhos para responder a pergunta 4, eu senti exatamente isso. Se eu não acredito nesse pensamento, se eu não acredito na história que ele está me contando, então eu não dou corda. Ela foi injusta comigo por algum motivo que eu não sei. Como a comunicação entre nós sempre foi complicada, eu nunca soube o que ela sente a esse respeito. Assim, como posso ficar chateado?
Isso me faz um pouquinho mais senhor da minha vida, porque meu bem-estar e paz interior não ficarão mais à mercê do comportamento da Darci. Melhor assim, porque ela não mudou nada desde então.
Inversão 2
“Eu estou chateado, desapontado comigo mesmo porque eu fui injusto comigo.”
Hummm, essa eu tenho que ir mais fundo. O que é ser injusto, ou justo, comigo mesmo? O que é me tratar de uma forma justa? Uma coisa que acontece com a Darci é que ela ultrapassou todos os meus limites, isso durante anos. E eu não tomei nenhuma providência quanto a isso. Aceitei e fui dizendo sim para tudo. Meus limites não estavam claros, em primeiro lugar para mim mesmo. Agora estão, e sei que quando esse pensamento saltar para dentro da minha mente, eu estarei abrindo mão dos meus limites, e me lembrarei que não quero isso. Ter esse pensamento para mim é agora um tipo de despertador, que me lembra que estou sendo negligente comigo mesmo.
A Darci deixa de ser uma vilã para se tornar a minha professora, que me ensina a amar mais a mim mesmo, a ser mais justo comigo mesmo.
Inversão 3
“Eu estou chateado, desapontado comigo mesmo porque eu fui injusto com a Darci.”
Pois é! Essa inversão é igualmente poderosa. Ela me fez perceber que por mais que eu esteja “certo”, eu não tenho o direito achar que eu posso mudar a outra pessoa. Ninguém nunca conseguiu isso, e eu não serei o primeiro. A outra pessoa só muda se ela quiser. Então porque diabos eu quero mudar a Darci? Mesmo que ela tenha um comportamento tóxico, ainda assim eu não tenho o direito de mudá-la. Ao mesmo tempo, não posso concordar em manter contato justamente porque o relacionamento é tóxico, e o diálogo se mostra impossível. Isso faz com que essa inversão seja verdadeira para mim, e transforma essa chateação e desapontamento em respeito pelo comportamento da Darci, ainda que eu não concorde com ela.
(Aqui chega ao final o diálogo entre o “eu investigador” e o Luiz.)
“THE WORK” COMO MEDITAÇÃO
Esse diálogo foi um dos muitos que eu acabei escrevendo no meu diário nessa jornada de perdão com a Darci. Não exatamente com os mesmos pensamentos estressantes, mas variações dele, que jorravam como água da fonte dependendo do comportamento dela. E eu fui investigado um por um.
Ao final, tenho meu coração em paz e todas as vezes que penso na Darci eu envio amor e compaixão genuínos. Na prática do dia a dia, não nos falamos mais. Mas sempre me lembro que perdoar não exige que você se submeta aos caprichos da outra pessoa. Perdoar é saber colocar limites.
Identificar e investigar pensamentos estressantes através das quatro perguntas e das inversões é o trabalho de uma vida. Estamos nos ocupando de nos amarmos mais, de nos aceitarmos mais como somos. Deixamos de ser uma caricatura e nos tornamos mais autênticos.
Pode ser que tenhamos que fazer e refazer, fazer e refazer todo o processo com uma mesma pessoa muitas e muitas vezes. São camadas e camadas de ego para lustrar, de modo a permitir que a luz passe e ilumine os cantos escuros da nossa alma. Então bora trabalhar e meditar!
Transformar cada momento do dia em uma meditação: qualquer pensamento estressante que aparece na mente é escrutinado por quatro perguntas e as inversões. Os pensamentos vem e vão, e para cada um deles eu pergunto: “Isso é verdade?”. É o meu mantra, e medito sempre nele.
Eu te incentivo a colocar o “The Work” na sua caixa de ferramentas, e usar sempre que algo tirar você do equilíbrio. Fazendo isso, você estará trabalhando para se conhecer melhor, para saber como você funciona internamente. Isso é o que vai te trazer uma paz interior mais duradoura.
Se quiser aprofundar o assunto leia e pratique o livro “Ame a Realidade”, de Byron Katie, Editora Best Seller.
Ou, caso queira e precise cortar caminho…
CASO PRECISE DE AJUDA
Algumas pessoas sentem que precisam de ajuda no processo, porque não é fácil você-se-separar-de-você para fazer o “The Work”. Principalmente no início, quando você ainda não está acostumada(o).
Com o tempo ele se torna a sua meditação, mas algumas pessoas sentem necessidade de fazer algumas sessões com um facilitador, para cortar caminho.
Se for esse o seu caso, eu posso te ajudar. Como alguém que já aplica essa ferramenta desde 2001 em mim mesmo e em outras pessoas e grupos, tenho a experiência suficiente para te introduzir na prática das quatro perguntas e das inversões.
Facilito esse trabalho tanto individualmente quanto em grupo, de forma presencial ou online.
Se quiser saber detalhes, entre em contato enviando um e-mail para mim no contato@luripontes.com.br.
Deixo um vídeo onde você pode assistir Byron Katie facilitando uma sessão.
Se você gostou do conteúdo, deixe um comentário abaixo, será bem importante para mim e ficarei muito feliz em te ouvir.
Com Amor,
Luiz Pontes
🎁Porque você deveria assinar Uma Vida Plena
Pra cultivar mais paz interior no meio do caos;
Pra lembrar que tem escolha, mesmo quando parece que não;
Pra receber muita informação relevante sobre som & música;
Pra sentir que você não está só nesse caminho;
Pra receber textos que tocam fundo, de forma simples e prática;
E porque é gratuito — chega toda quinta cedinho na sua caixa de entrada.
Caso queira falar comigo, envia um e-mail para contato@luripontes.com.br .
Clique aqui para meu perfil no Instagram e aqui para o Linkedin.
Mantenha-se atualizado
Nunca perca uma edição — cada novo post é enviado diretamente para a sua caixa de e-mail. Para uma experiência de leitura livre de spam e anúncios, além de recursos de áudio, vídeo e comunidade, obtenha o App Substack clicando aqui.
Para saber mais sobre a plataforma de tecnologia que alimenta esta publicação, visite Substack.com.