O que Você Encontra Quando Para de Resistir?
Como quatro perguntas simples podem dissolver conflitos internos e transformar sua relação com a realidade.
Como tudo começou
Por causa da cura das atitudes, nossas conexões internacionais começaram a aumentar (Rita e eu). Conhecemos várias pessoas incríveis de várias nacionalidades diferentes, de quase todos os cantos do mundo.
Por causa de todo o nosso envolvimento em expandir a mensagem da cura das atitudes e de nossas conexões com o centro da Califórnia, em 2001 viajamos até Guadalajara, no México, para participar da Conferência Internacional da Cura das Atitudes, patrocinado pelo centro daquela cidade.
Foram dias intensos, com muito networking, insights, momentos de êxtase e perdão. Pessoas do mundo todo juntas, festejando a unidade na diversidade (existe uma coisa linda na cura das atitudes - a oportunidade de se perceber igual ao outro, tanto no amor quanto na dor).
Eram várias palestras rolando simultaneamente, por isso eu assistia uma e perdia as outras duas ou três. Mas uma em especial aconteceria no salão principal do hotel, pois um grande público era esperado.
Seu título era:
“The Work of Byron Katie: Four questions that can change your life.”
“O Trabalho de Byron Katie: Quatro perguntas que podem mudar sua vida.”
O salão do hotel era enorme, e naquela noite a lotação era máxima.
Quando ela começou a falar, logo percebi que vinha daquele palco uma força suave, firme e clara, essencialmente clara.
Seu nome: Byron Katie.
Um pouco sobre Katie
Katie morava na pequena cidade de Barstow, no Deserto da Califórnia e levava uma vida que beirava o insuportável - estava no segundo casamento, com crianças pequenas e uma carreira de sucesso. Porém lutava contra uma depressão há anos, que a levava a paranoia.
Com o passar do tempo, todos em casa estavam estressados e exaustos em lidar com suas variações de humor, e seu marido acabou internando-a em uma clinica de recuperação.
A situação era tão grave que as outras internas da clinica ficaram com medo dela, que acabou indo para o sótão.
Um dia, com a auto estima lá embaixo, achando que nem sequer merecia dormir em uma cama, ela observou uma barata rastejando sobre seu pé descalço.
Esse foi o momento de sua iluminação, não no sentido clássico que é propagado por aí - como uma coisa quase impossível de atingir - mas sim um evento mais ordinário, que pode acontecer com qualquer um, que é simplesmente ver as coisas como elas são.
É como se todas as defesas que temos caíssem de uma só vez. Já pensou? Como seria ver o mundo a partir de uma perspectiva nova e diferente, em que as coisas do passado já não fazem mais sentido?
Pois foi isso que aconteceu com ela. Perdeu a sua antiga identidade, que estava ancorada na dor, confusão e sofrimento, e percebeu que sua compreensão sobre a vida havia sido completamente modificada.
Depois desse episódio, Katie voltou para casa totalmente sem referências. Ela sabia quem ela era, onde estava e quem eram seus familiares, mas não conseguia comunicar o que acontecia em seu interior.
Era tudo muito novo, uma vez ela não tinha o menor interesse em meditação e espiritualidade. Ela tinha apenas a sua própria experiência para guiá-la.
Mas logo, por algum motivo, começou a se espalhar pela cidade o boato de uma “senhora estranha”, que atraiu muitas pessoas que gostariam de falar com ela sobre seus problemas.
Atendendo as pessoas, ela percebeu que elas precisavam de um método, algo simples, prático e objetivo que se aproximasse daquilo que ela experimentou em seu despertar na cama do sótão. Precisavam mais de um método do que da sua presença física.
Assim nasceu o “The Work”, no final da década de 80.
Katie começou a ensinar e compartilhar “The Work” onde quer que fosse convidada. No início, em pequenas reuniões em salas de estar de residências, depois para grupos maiores, instituições, empresas e logo pelo mundo todo.
Mesmo crescendo e ficando muito conhecida, não perdeu a autenticidade e a humildade, características que fazem dela, ao meu ver, um farol de luz confiável.
Mas o verdadeiro tesouro é o método que ela inspirou. Ele incorpora a simplicidade, que, ao meu ver, é fundamental para qualquer método de transformação da consciência.
E, de fato, o método é simples, porém extremamente desafiador.
Destrinchando o “The Work”
A base de tudo é a investigação da mente, mais especificamente, o questionamento de pensamentos recorrentes que levam ao sofrimento.
Pensamentos negativos que vem e vão, à respeito de si mesmo e/ou dos outros, geram sentimentos negativos, que são extremamente nocivos para a saúde mental e física.
Pensamentos do tipo: “será que vou conseguir? será que sou capaz? porque ele me ignora? porque ela me traiu?
Ou até mesmo alguns pensamentos aparentemente inocentes como: “porque ele deixou as meias no chão? porque tinha que chover logo agora? porque ele come tão errado?
Esse tipo de pensamento, que gera estresse, está na raiz de todo sofrimento. Conseguimos identificá-lo quando ele se transforma em um sentimento que incomoda, assim cresce em nós o desejo de nos livrarmos dele.
Quando identificamos em nós um sentimento negativo, como o ressentimento ou a frustração, e chegamos ao ponto de ficarmos fartos dele, iniciamos o processo de cura. Nos responsabilizamos por ele.
Agora eu sei que é comigo, que eu sou o responsável por tudo aquilo que está na minha vida hoje. Por isso, se me sinto frustrado por alguma razão, e a melhor coisa que tenho a fazer é investigar o motivo dessa frustração.
Pensamentos estressantes geram sentimentos que incomodam, e isso acontece porque resistimos a realidade. Quando nos tornamos amigos dela, tudo fica mais fácil.
A pergunta é: o que faremos quando a realidade se apresentar como frustração na nossa vida?
Bem vinda(o) ao “The Work”
“The Work” existe porque Katie acreditou nas histórias mentirosas que sua mente contava para ela mesma. A partir do momento em que despertou, ela deixou de acreditar nelas, e viu o sofrimento sumir.
Todos sofremos, exatamente porque acreditamos nas histórias que o nosso ego conta para nós mesmos. Por exemplo, durante anos eu acreditei na história de que “eu tenho o controle das coisas”. Acreditar nela só criou mais e mais ansiedade.
Ou na história de que “eu consigo mudar a outra pessoa”. Tentei mudar meu pai durante muitos anos e sem sucesso. E assim aconteceu com todas as pessoas que cruzaram o meu caminho e eu tentava mudar - não tive sucesso com nenhuma. Se você já conseguiu, me fala!
“The Work” desfaz as histórias na sua origem, que são os nossos pensamentos.
Basicamente, pode ser resumido assim:
Julgue a pessoa mais próxima, escreva esses julgamentos, faça quatro perguntas, inverta-os.
Agora vamos a explicação passo a passo:
Escolha uma situação com outra pessoa, que não esteja resolvida e lhe cause estresse. Uma pessoa que lhe cause antipatia, ou mesmo uma que você goste mas julga frequentemente (mesmo com a melhor das boas intenções). Use a primeira pessoa que lhe vier a cabeça. Pode incluir pessoas falecidas.
Agora responda as perguntas abaixo. Não escreva sobre si mesmo ainda! Ao responder, julgue mesmo, sem dó e sem censura. Escreva sentenças curtas e objetivas (vá direto ao ponto). Não tente ser “espiritual” ou “bonzinho”. Nós fomos ensinados durante anos para não julgar e, mesmo assim, é o que fazemos o tempo todo. Finalmente, use papel e caneta para escrever, e isso é muito importante. O ato de escrever dá forma ao sentimento. Não caia na tentação de responder mentalmente, se deseja resultados efetivos.
PERGUNTAS
Esteja com a pessoa objeto da investigação sempre na mente. Procure trazer as memórias do momento em que a situação ocorreu. Sinta, acima de tudo sinta e não se reprima. Não tente ser bonzinho. Lembre-se: é seu momento de julgar!
Com isso em mente, responda as perguntas a seguir somente se já tem o nome da pessoa com a qual quer trabalhar. Não faça com você mesmo ainda. E não se esqueça: escreva com papel e caneta (ou lápis).
Pergunta 1
De quem você não gosta? Quem te irrita, entristece ou desaponta? Por quê?
Eu não gosto (ou estou irritado, confuso, triste, etc) com _______________ porque ele (a) _____________________.
Exemplo: Estou irritado com Bob porque ele não me entende. Ele grita comigo e me faz sentir mal. Ele me maltrata e algumas vezes é violento, etc…
Pergunta 2
De que forma você gostaria que ele mudasse? O que exatamente você gostaria que ele fizesse?
Eu quero que _________ faça ________________. (liste as coisas que você quer nesta situação)
Exemplo: Eu quero que Bob me ame incondicionalmente, me aceite como sou, que não se atrase mais, que não olhe mais para outras garotas, etc…
Pergunta 3
O que você acha que ele deveria ou não fazer, ser, pensar ou sentir? Que conselho daria a ele?
________ deveria (ou não deveria) __________ (liste tudo que puder nesta situação).
Exemplo: Bob deveria fazer mais exercícios. Ele não deveria assistir tanta TV e nem comer tanta bobagem. Ele também poderia ser um pouco mais higiênico consigo mesmo. Ele deveria prestar mais atenção nele mesmo, etc…
Pergunta 4
Existe algo que você gostaria de receber dele? O que seria necessário, da parte dele, para que você se sentisse em paz ou feliz?
"Eu preciso que ________ faça ______. (liste tudo o que satisfaça a sua necessidade, que faça você feliz nessa situação)
Exemplo: Eu preciso que Bob entenda que eu o amo. Preciso que ele me escute, que seja carinhoso comigo, que demonstre que ele me ama realmente, que me compreenda, etc...
Pergunta 5
Qual é a sua opinião sobre ele? Que julgamentos ou percepções você tem a respeito dele? Faça uma lista.
________ é ___________ (liste suas opiniões e julgamentos à respeito dele nesta situação).
Exemplo: Bob é negligente, ele não presta atenção em nada, esquece das coisas, é insensível, não percebe que estou sofrendo, é passivo, não toma iniciativa, vive empurrando as coisas com a barriga, etc…
Pergunta 6
O que você não gostaria de vivenciar novamente com ele?
Nunca mais quero que ___________ faça ______________. (liste as coisas que você quer que nunca mais se repitam).
Exemplo: Nunca mais quero discutir com Bob, não quero que ele nunca mais grite comigo, que seja rude. Não quero ter que aturar mais crises de ciúmes, etc…
Qualquer um pode fazer “The Work”, basta estar aberto para ele.
Byron Katie
Com as respostas escritas, entramos na fase de investigação.
INVESTIGAÇÃO
“The Work” propõe investigar pensamentos estressantes através de quatro perguntas, que serão a chave para a sua transformação.
Se você respondeu ao questionário acima, eles estão registrados no papel.
Agora, para investigar cada uma das seis respostas, você pode aplicar as quatro perguntas abaixo:
Isto é verdade? (apenas sim ou não)
Você tem 100% de certeza de que é verdade? (apenas sim ou não)
O que você sente quando tem esse pensamento? Consegue localizar no corpo?
Quem você seria sem esse pensamento? Quais sentimentos estariam dentro de você?
Exemplo simples
Estou irritado com Bob porque ele não me entende.
Isso é verdade? Sim, ele virou a cara para mim ontem.
Você tem 100% de certeza de que isso é verdade? Hummmm, não. Afinal de contas, eu não consigo saber com certeza o que Bob está sentindo. Ele pode ter virado a cara por outro motivo, ou nem mesmo ter virado a cara.
O que você sente quando tem esse pensamento? Mal, me sinto prá baixo, derrotado, deprimido, parece que o mundo não gosta de mim. No corpo pega na parte de cima da barriga, na região do plexo solar.
Feche os olhos e imagine a situação com a pessoa. Só que agora você não tem mais aquele pensamento estressante “Bob não me entende”. Quem você seria sem esse pensamento? Tente sentir como você seria por dentro se o pensamento de que o Bob não te entende não existisse. Ahh… eu seria com certeza uma pessoa mais leve, mais fluída, que não precisa de reconhecimento.
AS INVERSÕES
As inversões são um momento muito especial do trabalho, onde basicamente, você literalmente inverte a frase que escreveu.
É simples?
Nem tanto. Podemos ser extremamente resistentes com algumas inversões. Isso é assim porque acreditamos na história que contamos a nós mesmos a ponto de nos apegarmos a ela.
Se eu acreditar por muito tempo na história “Eu estou irritado com ___ porque ele não me entende”, é 100% de certeza que vou sofrer.
Assim como a inversão de estresse é paz interior, a frase acima pode sofrer inversões bastante interessantes, que muitas vezes despertam grandes insights sobre si mesmo:
“Eu estou irritado comigo mesmo porque eu não me entendo” (inverte o sujeito, de “ele” para “eu”) ou
“Eu não estou irritado com ___ porque ele não me entende” (inserção do “não”)
Cada inversão dever ser vivenciada, sentida. Por isso é importante ficar com ela algum tempo, de olhos fechados, sentindo com a máxima intensidade possível cada uma delas.
Não se preocupe se ela não parecer verdadeira para você. Tudo certo! Você pode revisitá-la depois de um tempo para ver se faz sentido, ou descartá-la. Nesse processo, a honestidade emocional consigo mesmo é essencial.
E você pode eventualmente encontrar outras inversões. O importante é vivenciar cada uma delas.
“… não subestimes o poder do ego”
Um Curso em Milagres - Cap 5 - V - 11
Inversões podem destravar processos bloqueados e dissipar a névoa em torno de pensamentos confusos sobre uma pessoa ou situação. Elas nos colocam frente a frente com a nossa verdade, e temos a chance de aceitar a realidade como ela é.
Nos mostram que as outras pessoas podem se tornar os nossos grandes professores, por pior que seja a situação (se quiser ler sobre pessoas que viveram a paz interior em ambientes caóticos e estressantes, tem um artigo sobre isso aqui).
Para Finalizar
“The Work” é uma benção na minha vida. Assim que cheguei aqui no Brasil em 2001, depois da Conferência, trouxe comigo o livro “Loving What Is” (publicado no Brasil com o nome de “Ame a Realidade”), e simplesmente devorei-o.
Comecei a fazer o trabalho comigo mesmo, investigando as minhas crenças e julgamentos à respeito de certas pessoas e situações, especialmente as mais próximas. Os resultados apareceram muito rapidamente.
Desde essa época uso essa ferramenta para me ajudar a meditar nos pensamentos negativos que tenho sobre mim mesmo e sobre outras pessoas, situações e instituições.
Nesse tempo aprendi que “The Work” não é uma pílula mágica que resolve os problemas de relacionamento em um piscar de olhos. É preciso aplicá-lo uma vez, depois outra, e outra, e outra. Quantas forem necessárias, por vezes em uma mesma situação.
Na minha experiência, tive que aplicá-lo muitas vezes sobre o mesmo assunto e pessoa, até a clareza chegar. Por isso considero o “The Work” como uma meditação.
Recentemente, ele me ajudou demais em uma “encrenca” de relacionamento com uma pessoa muito próxima.
Vou contar a minha experiência pessoal com o “The Work” nesse caso específico em uma edição da news que chegará para você até Domingo próximo.
CASO PRECISE DE AJUDA
Se você acha que “The Work” pode ser útil para você, incorpore-o na sua prática.
Algumas pessoas sentem que precisam de ajuda no processo, e eu sou um facilitador desse trabalho, tanto individualmente quanto para grupos, presencial ou online.
Se achar que posso te ajudar de alguma forma, entre em contato enviando um e-mail para contato@luripontes.com.br .
O SOFRIMENTO É OPCIONAL
Deixo com você um vídeo bem curto, e muito interessante, com a própria Katie contando a sua história.
Se você gostou do conteúdo, deixe um comentário abaixo, será bem importante para mim e ficarei muito feliz em te ouvir.
Com Amor,
Luiz Pontes
🎁Porque você deveria assinar Uma Vida Plena
Pra cultivar mais paz interior no meio do caos;
Pra lembrar que tem escolha, mesmo quando parece que não;
Pra receber muita informação relevante sobre som & música;
Pra sentir que você não está só nesse caminho;
Pra receber textos que tocam fundo, de forma simples e prática;
E porque é gratuito — chega toda quinta cedinho na sua caixa de entrada.
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