Cura das Atitudes Parte 2: Um Casal se Encontra Para Trabalhar
e como um relacionamento pode se beneficiar de uma prática psicoespiritual conjunta
Essa história é a continuação da parte 1.
Logo que encontrei a Rita sabia, em algum lugar do meu ser, que muita coisa iria mudar na minha vida. Eu literalmente passei a viver uma vida diferente.
Um fato muito marcante logo no início do nosso relacionamento foi a fundação, junto com um grupo de amigos, do CCA - Centro para Cura das Atitudes no Brasil, isso lá no longínquo ano de 1998.
A história de como isso aconteceu é o que quero te contar. Ela mostra como o relacionamento de um casal pode se beneficiar de uma prática psicoespiritual conjunta.
Bora lá?
Como tudo começou
Como na história do Jerry, eu também comecei a estudar e praticar “Um Curso em Milagres” (de agora em diante UCEM) porque a minha vida não estava nada boa. Como ele, eu também estava numa pindaíba emocional que me afundava cada vez mais no trabalho.
A Rita chegou na minha vida exatamente nesse momento em que eu estava vivenciando os exercícios de UCEM. Foi automático compartilhar os ensinamentos que tanto estavam me fazendo bem com ela. Disso resultou em um grupo de estudos do livro, que aconteceu em nossa casa de 1997 até 2007, quase que de forma ininterrupta.
No início de 1998 começamos a sentir que o grupo estava “intelectualizando” demais, ou seja, trazendo os conceitos profundos de UCEM para a mente, e não para o coração. Faltava a prática real, do dia a dia.
Pesquisamos instituições que faziam trabalhos semelhantes, e descobrimos que existia na Califórnia o “Center for Attitudinal Healing”, o primeiro centro fundado pelo Dr. Jerry Jampolsky, cuja história eu contei na parte 1.
Para encurtar uma longa história, no segundo Domingo de Agosto a Maria Cristina, uma voluntária ligada ao Centro de Buenos Aires e ao Centro dos EUA, ministrou o primeiro workshop da cura das atitudes no Brasil.
Foi um final de semana de trabalho interior intenso, onde o amor e o perdão perpassaram o sofrimento e a angústia. Onde os ensinamentos dos 12 princípios puderam ser vivenciados em grupo.
No final, entendi e senti profundamente do que se tratava a cura das atitudes - servir ao próximo e a si mesmo com amor, e não medo (julgamento).
Saímos transformados, eu e Rita, e muito dispostos a começar a facilitar grupos.
Os primeiros grupos e trabalhos voluntários
Algumas pessoas saíram do workshop muito animadas e dispostas a facilitar grupos, eu e Rita inclusive. Aquele grupo inicial de UCEM que me referi lá em cima e que acontecia na nossa casa, nós o transformamos em um grupo de suporte da cura das atitudes.
Quando isso aconteceu, integramos mente e coração trazendo para a prática do dia a dia os 12 princípios, o perdão e o não julgamento.
Enquanto durou, nosso grupo foi um manancial de ensinamentos que ajudou a todos imensamente. Treinei muito a percepção interior, a escuta empática, a aceitação e o perdão.
Num certo momento, o grupo decidiu que deveríamos nos tornar uma ONG. Assim poderíamos fazer parcerias com vários tipos de instituições. E foi o que aconteceu: passamos a trabalhar com escolas, hospitais, casas de repouso, outras ONGs, empresas, polícia, prisões e clínicas de recuperação.
Um dos pontos mais altos da minha experiência com a cura das atitudes foi ter conhecido e trabalhado com o meu querido e saudoso amigo Dan Millstein.
Dan era um ex-viciado que um dia assistiu a uma palestra do Jerry, e depois de passar por uma transformação profunda na vida, começou a facilitar grupos de cura das atitudes na prisão (ele mesmo sendo um ex-preso).
Quando esteve aqui, em duas ocasiões, impactou de forma intensa e marcante a minha vida. Tinha uma presença forte, e junto com a Maria formavam um par de trabalho perfeito, que integrava as energias yin e yang.
Juntos fomos a polícia, prisões, clínicas de recuperação, hospital psiquiátrico e tantos outros locais onde estão pessoas que sofrem privação, doença ou estresse elevado no trabalho.
Essas experiências me marcaram bem lá no fundo. Um dos momentos mais inexplicáveis foi a emoção intensa que senti quando ele disse, entrando junto comigo no Presídio Feminino de São Paulo: “This is a holy place” (Esse é um lugar sagrado).
Eles, Dan e Maria, nos incentivaram e ajudaram a começar a viajar pelo Brasil formando facilitadores da cura das atitudes.
Isso nós adorávamos! O contato com as pessoas, o olhar nos olhos, as emoções vivenciadas em grupo, o amor e o perdão que vivenciávamos em uma formação de um final de semana.
A parceria com o HSPM
Em 2001, entramos em contato com o HSPM - Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo, para verificar a possibilidade de começar um grupo de suporte nas dependências do hospital.
As portas se abriram rapidamente, e o primeiro grupo teve início com vários profissionais do próprio hospital, entre médicos, enfermeiras e assistentes sociais e administrativos. Foi um grande sucesso, e isso possibilitou que fossem oferecidos grupos para os pacientes do hospital, até os dias de hoje.
Tenho muitas histórias sobre as minhas transformações interiores durante o longo período em que facilitei grupos no hospital, e uma delas em especial quero contar aqui.
Eu e a Rita estávamos radiantes com o sucesso do primeiro grupo.
Porém, havia uma situação que me incomodava: uma das participantes ficava em silêncio em toda reunião. Quando chegava a vez dela partilhar, ela passava a palavra em silêncio.
Foi assim na primeira, segunda e todas as outras que se seguiram. Até o final.
Essa situação começou a me irritar lá pelo terceiro encontro, e eu passei a julgá-la. “Como ela não fala nada? Porque perde essa oportunidade de se curar?” ou “Ela não entendeu nada do que é a cura das atitudes” ou “será que ela não está gostando e está se sentindo obrigada a vir?”
Fechamos o ciclo dos 12 princípios, e organizamos uma festinha de confraternização, na qual familiares podiam participar.
Durante a festa, uma moça pediu para falar conosco. Era a filha da “senhora que não falava”. Ela disse: “Vocês não sabem o quanto esse grupo fez bem para ela! Ela melhorou muito desde que começou no CCA.”
Nesse dia aprendi na carne que uma das coisas mais perniciosas do mundo é o julgamento. Desde então venho observando meus julgamentos sobre outras pessoas e situações, e principalmente o meu auto-julgamento.
Depois desse grupo vieram muitos outros. Tivemos momentos maravilhosos com tantas pessoas que corajosamente colocaram a sua vulnerabilidade ali no centro do círculo para a cura de todos.
Jerry e Diane no Brasil
Em Setembro de 2005 Jerry e Diane desembarcaram no Brasil. Eles generosamente vieram por conta própria, animados com a projeção que a cura das atitudes estava ganhando aqui, e dispostos a nos ajudar na missão de expandir a mensagem.
Foram muitas atividades durante uma semana aqui em SP e em Brasília. Conviver com esse casal maravilhoso durante esse tempo foi uma benção, e aprendi muito nesse pequeno período.
Um dos momentos mais emocionantes foi quando visitamos uma casa muito simples na periferia da zona leste de São Paulo, junto com a ONG que apoiava a família. Encontramos um pai de família na cama, com uma doença grave, impossibilitado de andar, mas consciente.
São esses os momentos que levamos para toda a vida. A energia de amor incondicional que eles irradiavam naquela sala era impressionante, e palavras não expressam a magnitude do que aconteceu ali. Chorei várias vezes, e me permiti sentir a intensidade da emoção.
Outro momento especial foi quando eles visitaram o HSPM, numa palestra para todos os participantes dos grupos de suporte e funcionários do hospital. Aquela tarde foi mágica! Ele, a pessoa que inspirou a cura das atitudes estava ali, no palco, falando para todos nós e expandindo o seu amor. Me senti em êxtase várias vezes.
Quando foram embora, a cura das atitudes no Brasil ficou mais forte.
A vinda deles nos inspirou a editar o best seller de Jerry, “Love is Letting go of Fear” em Português. Nasceu então o “Amar é Libertar-se do Medo”, publicado pela Editora Peirópolis, e que guardamos com muito carinho, autografado pelos dois.
Construindo um espaço seguro
Se você leu a parte 1 desse artigo, sabe que os grupos de suporte da cura das atitudes estão baseados em 12 princípios psicoespirituais e 10 diretrizes que regem o trabalho em grupo.
Basicamente, em um grupo desse tipo somos convidados a aplicar um determinado princípio durante a semana, para compartilhar a experiência na reunião seguinte. Digamos que o princípio da semana seja “Podemos nos desprender do passado e do futuro”. A proposta é aplicá-lo todos os dias da semana em todas as situações da vida, sem exceção.
Se o participante é diligente na aplicação do princípio, os resultados não demoram a aparecer. Não é que tudo vá melhorar de uma hora para outra, mas as questões reais começam a aparecer. Ele passa a exercer seu poder de escolha.
Todas essas questões podem então ser compartilhadas em um lugar seguro, o grupo de suporte que acontece uma vez por semana.
Para garantir que o grupo seja realmente um lugar de segurança psicológica, existe um “contrato” que cada participante concorda em seguir. Esse contrato são as diretrizes para os grupos (para a lista completa de diretrizes veja a parte 1 deste artigo).
Basicamente acontece o seguinte enquanto estamos compartilhando as nossas experiências:
Somente quem está com o “coração falante” (feito de pelúcia) na mão é que pode falar;
A pessoa fala sempre na primeira pessoa;
A pessoa deve focar na sua experiência emocional em como foi aplicar o princípio durante a semana;
Não é permitido dar conselhos para os outros participantes.
A facilitação de grupos
Para que os grupos funcionem de forma harmônica, é preciso que alguém tome conta. Esse alguém é o facilitador. Em um grupo de cura das atitudes, normalmente existem dois facilitadores. A função deles é manter a reunião “nos trilhos”, garantindo que as diretrizes estão sendo seguidas. Fora isso, o facilitador é como qualquer outro participante.
Facilitei grupos por muitos anos; centenas, talvez milhares de vezes. Quantas histórias não ouvi? Quantos corações generosos, dispostos a se abrir e mostrar coragem ao abraçarem sua vulnerabilidade.
Agradeço do fundo do meu coração tudo o que aprendi facilitando grupos. São ensinamentos, insights e vivências que aplico em todas as áreas da minha vida, e que funcionam como uma “caixa de ferramentas” tipo: “Qual é o princípio que vou exercitar nessa minha questão aqui com o meu pai?”, ou qualquer outra questão que cause conflito interior.
Esse foi um dos maiores treinamentos em olhar-para-dentro-de-mim que já recebi. Participar de centenas de horas exercitando a escuta empática, a aceitação, o não julgamento e o perdão com os outros fizeram com que eu começasse a fazer isso comigo mesmo.
O processo foi ainda mais profundo porque eu sempre facilitei os grupos com a Rita. Muitas vezes eu não me sentia a vontade para compartilhar algo que iria envolvê-la, mas como sempre fomos muito claros e honestos um com o outro, logo a questão se esclarecia e era resolvida entre nós. Facilitar grupos de cura das atitudes foi uma benção em nossas vidas
Como estamos hoje em dia
Depois de alguns anos afastados dos grupos e da rede de facilitadores que se formou pelo Brasil, eu e a Rita estamos agora, novamente, muito envolvidos com a cura das atitudes.
Em 2022 participamos como professores convidados em um curso online para formação de facilitadores ao redor do mundo da “Attitudinal Healing International”, o que foi uma experiência indescritível.
Recentemente formamos novos facilitadores em um curso online, que por sua vez se voluntariam para abrir novos grupos.
Ao chegar até aqui, talvez você esteja pensando em conhecer ou mesmo participar de um grupo de suporte, para lidar com questões que podem estar sendo um fardo para você.
Ou talvez você conheça alguma instituição pública ou privada da área da saúde, educação ou segurança, que possa se beneficiar de trabalhos como a cura das atitudes.
Em qualquer dos casos, ou se você simplesmente quer saber mais detalhes sobre o CCA - Centro para Cura das Atitudes no Brasil, é só visitar o perfil @curadasatitudes no Instagram.
Ou me enviar um e-mail no curadasatitudesbrasil@gmail.com.
Adoraremos conversar com você!
Saiba também que atualmente já existem grupos presenciais e online onde você pode se engajar, se sentir no coração. Os grupos são sempre gratuitos.
Para finalizar
Eu sou e sempre serei eternamente grato por ter conhecido a cura das atitudes. Foi um grande marco na minha vida. Honro cada pessoa que, ao redor de todo o mundo, semeia esse conhecimento e essa prática tão simples, e ao mesmo tempo tão profunda e transformadora.
Minha forma de honrar é estar a serviço, e colocar tudo o que geramos de material, conhecimento e experiência à disposição do maior número possível de pessoas que necessitem desse tipo de ferramenta.
E fazer isso com a minha companheira de jornada, nós dois juntinhos, nem sempre concordando, mas nos relembrando continuamente dos 12 princípios e das diretrizes, foi e tem sido muito transformador, tanto para cada um de nós quanto para o relacionamento.
Então, se você se sentiu tocado por esses dois artigos e quer conhecer a cura das atitudes mais a fundo, manda uma mensagem. Ficarei muito feliz em me conectar com você!
Com Amor,
Luiz Pontes
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