Ouvindo Além das Palavras: Redescobrindo a Arte de Escutar com Presença
O silêncio entre as palavras revela muito mais do que imaginamos. Você está pronto para aprofundar sua escuta?
O mundo de hoje está ficando cada vez mais surdo, seja pelo volume dos ruídos, que mascaram os sons agradáveis, seja pela nossa própria incapacidade de escutar de forma verdadeira o que o outro está dizendo.
Como você se sente em meio a um ambiente cheio de ruídos?
E quando tudo o que você precisa é ser ouvido, mas a outra pessoa só fala e dá conselhos?
A forma como escutamos define como nos relacionamos com nós mesmos e com os outros.
A audição é vital para a nossa comunicação, sem ela nossa interação com o mundo fica bastante prejudicada. É um sentido um pouco “esquecido”, porque culturalmente se dá mais valor ao que se vê do que ao que se ouve.
Compreender como processamos sons, palavras e músicas aumenta nossa consciência sobre o mundo vibracional que nos rodeia, e isso ajuda, e muito, a nos relacionarmos com as outras pessoas e seres.
E mais, ao prestar atenção ao que ouvimos, nosso mundo interior ganha uma nova dinâmica, principalmente quando nos engajamos em conversas significativas, em diálogos e trocas que valorizam o que a outra pessoa está dizendo.
E você, qual a importância que dá para a escuta? Se quiser aprofundar nesse tema instigante e crucial para o nosso desenvolvimento enquanto seres humanos, continua comigo aqui.
O mundo está ficando surdo
A audição é um sentido maravilhoso, mas que tem sido historicamente relegado a um segundo plano. Não damos a importância devida a ele.
Estamos mergulhados em um oceano de sons, que chegam aos nossos ouvidos e são processados quase que instantaneamente por um conjunto de órgãos e ossículos, que transformam a energia mecânica do som em atividade elétrica no cérebro.
Não temos como “desligar” a audição. Os ouvidos não tem pálpebras como os olhos, e queiramos ou não, estamos sempre processando os sons, até mesmo dormindo.
O impacto do que ouvimos é gigantesco, e define nossa relação com o mundo.
Mas ouvir é diferente de escutar. Ouvimos o tempo todo, mas escutamos cada vez menos.
Ouvir é processar os sons que chegam.
Escutar é dar significado ao som.
O mundo está ficando cada vez mais barulhento, como vimos no post anterior (leia aqui), e por isso estamos deixando de apreciar as belezas sonoras e principalmente estabelecer conversas significativas uns com os outros.
Muitas vezes temos que conversar em um volume bem alto, por causa da cacofonia em volta. Pense na energia que gastamos, tentando falar e escutar na hora do “rush” em uma praça de alimentação de shopping.
Outro dia eu registrei um volume altíssimo (aprox. 90 dB) dentro de um vagão do metrô aqui de São Paulo, resultado do atrito dos trilhos com as rodas. Durou mais ou menos 20 seg, mas o impacto foi significativo.
Essa cacofonia barulhenta, que está cada vez mais comum nas grandes cidades, faz com que mais e mais pessoas procurem alternativas, e uma das mais perniciosas tem sido o uso indiscriminado de fones de ouvido.
Isso gera dois problemas principais:
Ficamos cada vez mais isolados, cada um na sua própria “bolha sonora”.
O som dos fones é entregue diretamente no canal auditivo. Volumes cada vez mais altos, que compensam o ruído externo excessivo, podem causar danos irreversíveis a audição.
Esse estado de coisas está criando um mundo onde a pessoa existe dentro de sua bolha, e tem cada vez mais dificuldade em se comunicar com os outros e com a natureza.
Essa surdez crônica impede que os conflitos mundiais e regionais sejam resolvidos de forma civilizada, pela via diplomática.
E numa escala menor, mas tão importante quanto, ela afeta nossas famílias. De uns anos para cá, a polarização política, a falta de compreensão e empatia tem destroçado famílias inteiras, porque são incapazes de se ouvir.
O mundo onde ninguém se escuta é assustador.
Os filtros da escuta
Com relação a qualquer outra pessoa, você se considera um bom ouvinte?
Responder a essa pergunta pode levar a um profundo mergulho dentro de nós, para avaliarmos a qualidade da nossa escuta.
A primeira coisa a reconhecer é que temos filtros internos que direcionam a forma como escutamos. A cultura onde fomos criados, a língua que falamos, nossos valores, crenças e atitudes, nossas expectativas e finalmente a nossa intenção.
Esses filtros vão determinar a forma como escutamos. Se somos rígidos e inflexíveis escutamos pouco ou quase nada. Se por outro lado estamos abertos e receptivos abrimos novas possibilidade para enxergar o mundo.
Filtros muito restritos podem gerar alguns tipos de dificuldade de comunicação.
Aqui vão quatro para você refletir (existem muitos outros):
1. Dizer o que as pessoas tem que fazer
A pessoa começa suas frases com “Você deveria…” ou “Se fosse você, eu…” ou “Meu conselho para você é…”. Ou pior, coloca a culpa na jogada: “Porque você fez isso?”.
Isso cria um bloqueio na pessoa que está ouvindo, que pode mudar de assunto ou parar a conversa, porque em uma comunicação genuína todos queremos ser aceitos como somos.
A pessoa pode ficar na defensiva ou se sentir inadequada com os conselhos e “deverias”, o que pode bloquear a comunicação ou criar ainda mais questões a serem resolvidas entre as duas pessoas.
Muitas pessoas não escutam com a intenção de compreender. Elas escutam com a intenção de replicar.
Steven Covey
2. Falar muito
Para uma grande parte das pessoas, existe uma inclinação natural para falar em demasia.
Fala e audição caminham juntas, e muita fala significa pouca escuta.
Quando falamos demais, não deixamos espaço para a outra pessoa se manifestar, e assim não escutamos o que ela tem para dizer. Na verdade não escutamos nem a nós mesmos, e em geral falamos muito mais do que é necessário, sem perceber.
E lembre-se que podemos falar muito dentro da nossa cabeça, nos nossos pensamentos. Quando estamos pensando, geralmente fazendo julgamentos, enquanto a outra pessoa fala, não estamos escutando, pois é impossível fazer as duas coisas ao mesmo tempo.
3. Julgar o outro
As vezes somos forçados a nos comunicar com pessoas com as quais temos profundas diferenças.
Geralmente, em situações como essas, criamos bloqueios de comunicação baseado no nosso julgamento sobre a outra pessoa. Ficamos na defensiva, preparados para atacar assim que a hora chegar.
Tipicamente, a pessoa fala a primeira frase e o pensamento que vem na mente é: “Como ele pode ser tão ……” ou “Sabia que ele iria falar isso…”.
Esse tipo de comportamento bloqueia totalmente a comunicação e impede o entendimento mútuo e uma troca de experiências mais genuína.
4. Viver acelerado
O que podemos fazer quando somos constantemente bombardeados com informação rápida 24h por dia, 7 dias por semana, através dos nossos celulares, TV´s, notebooks e tablets?
Essa enxurrada de estímulos tendem a substituir o contato cara a cara pela interação com a telinha e sua rolagem infinita. Ou optamos por mandar mensagens de texto ao invés de ligar ou encontrar pessoalmente.
Parece que estamos ocupados demais em rolar a telinha, e não sobra tempo para conversarmos. Sabe aquela reunião de família de gente que não se vê há um tempo, e que o pessoal fica no celular? Já aconteceu com você?
Limpando os ouvidos
Uma vez que ganhamos consciência de que é importante aprimorar nossa escuta, começamos a abrir os ouvidos para a infinidade de sons que não escutamos. Nosso universo sonoro aumenta.
Os bloqueios à escuta descritos acima ficam mais aparentes, e assim podemos trabalhar para que eles fiquem mais silenciosos.
É o processo que o musicoterapeuta canadense Murray Schafer chama de “limpeza dos ouvidos”.
Ela tem como base a escuta ativa e o refinamento auditivo.
Escutar requer ação, requer atenção. Escutar de forma ativa é prestar atenção ao som, a música ou ao que está sendo falado.
Escutar requer presença.
E ao prestar cada vez mais atenção aos detalhes dos sons que nos chegam, refinamos a nossa audição, e participamos mais do mundo.
Deixo aqui três exercícios de “limpeza dos ouvidos” que você pode fazer na sequência de leitura desse texto, e depois aplicar quando quiser.
Silêncio no caos: Como abordei no artigo anterior (aqui), o silêncio nos coloca em uma posição de abertura para escuta. Se você inserir de forma deliberada 2 ou 3 min de silêncio na sua vida, verá a diferença. Simplesmente ficar quieto. E sabe aquela pessoa que você tem dificuldade de comunicação? Experimente ficar em silêncio mais tempo durante a próxima conversa, e deixe que ela fale mais do que você. Este é um exercício muito poderoso.
Separação de canais: A qualquer momento do dia, mas especialmente os mais cheios de som de qualquer tipo, é uma oportunidade para você aplicar esse exercício. Pare por alguns instantes e preste atenção aos sons que está ouvindo, e vá separando os canais. Eu por exemplo, nesse momento, ouço a ventoinha do meu computador, uma roçadeira ao longe, uma moto passando na rua e pessoas conversando no vizinho. E você? Quer tentar agora? Coloque o fone e clique na faixa abaixo.
Tudo é música: aprenda a apreciar sons estranhos do dia a dia como música. Por exemplo, o vai e vem do para brisa do meu carro faz um barulho ritmado. A minha lava roupa antiga fazia algo parecido, eu e a Rita dançávamos ao som da centrifugação. Experimente sentir esses sons como música e veja o que acontece. O trecho de vídeo a seguir mostra bem isso, do maravilhoso filme “O Som do Coração”, com o saudoso Robin Williams.
Posições de escuta
Todas as vezes em que nos engajamos em uma conversa, seja presencial ou online, nos colocamos em uma posição de escuta, de forma consciente ou não.
A posição de escuta é a atitude de escuta.
Existem diversas posições de escuta, que podem coexistir simultaneamente. Conhece-las pode nos ajudar a sermos ouvintes cada vez melhores.
Abaixo listo algumas delas (existem várias):
Escuta Passiva. Não prestamos atenção ao que está sendo dito. Ao invés de escutar, ouvimos. Sem nenhum envolvimento e superficial. Acontece quando não temos interesse no assunto ou a pessoa que está falando cria algum tipo de incômodo.
Escuta Ativa. Prestamos atenção ao que está sendo dito e damos espaço para a outra pessoa falar. Não fazemos julgamentos de valor e apreciamos a opinião da pessoa, mesmo que não concordemos. Ótimo para treinarmos a nossa paciência e aceitação, e aprendermos mais sobre como podemos escutar melhor.
Escuta Crítica. Escutamos com atenção e focando na lógica racional. Útil para debates e explorações de conceitos. Como muitas vezes a empatia está ausente, esse tipo de escuta pode descambar para o lado do “eu tenho razão, você não” (mais sobre esse tema aqui).
Escuta Empática. Uma das mais necessárias nos dias de hoje. Foca na compreensão das emoções do outro, sem julgamentos. É literalmente nos colocarmos no lugar da outra pessoa. Todos os relacionamentos saudáveis exercitam essa escuta. Eu tenho praticado há anos e atesto a sua eficácia.
Escuta Apreciativa. Quando paramos para apreciar uma obra de arte sonoro musical. Pode ser um pássaro cantando, o som da água da cachoeira, da chuva e do vento, ou aquela música que você adora. Fazer isso de forma consistente traz muitos benefícios.
Escuta Seletiva. Sabe quando não queremos ouvir o que o outro quer falar? Ou quando alguém ouve apenas parte do que falamos, selecionando os trechos que lhe interessam? Assim é a escuta seletiva, muito comum nos dias de hoje. Em uma comunicação saudável, tudo tem direito a ser escutado, e isso é um grande desafio nos relacionamentos.
Você se identificou com algumas dessas posições de escuta?
Quais são aquelas que você mais costuma ficar?
As vezes não somos muito conscientes das nossas posições de escuta, e por isso o feedback das pessoas com as quais convivemos é muito importante.
Pergunte para elas diretamente: “Você acha que eu sou um bom ouvinte?”
Aceite a devolutiva com humildade, vontade de aprender e disposição para mudar hábitos de escuta.
Para finalizar
A forma como escutamos define a qualidade dos nossos relacionamentos e portanto o tipo de mundo que estamos construindo.
Nessa época tão barulhenta, aprender a escutar com atenção, respeito e presença é um ato revolucionário.
Quando escutamos de forma ativa e empática, abrimos espaço para a conexão, para o entendimento e para a transformação.
Penso que é disso que o mundo precisa agora. O mundo, nossas comunidades e nossas famílias.
Então eu te pergunto: você está disposto a praticar a verdadeira escuta?
Se você, como eu, está engajado em criar espaços de escuta e conversas significativas, vamos nos conectar. Clique no botão abaixo e deixe um comentário.
Refinar a arte da escuta ativa e empática pode salvar o mundo.
Comecemos prestando atenção no silêncio entre as palavras e sons, que é onde está o início da transformação genuína.
Com Amor,
Luiz Pontes
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