Reflexões Práticas Sobre o Ego
a auto observação como ferramenta para compreender melhor a dinâmica do nosso mundo interior
Fala-se muito sobre o ego. Ouvimos essa palavra em muitos contextos e nem sempre sabemos exatamente o que ela significa.
Nesse artigo vou explorar o assunto a partir dos conceitos da cura das atitudes.
O ego é uma falsa imagem de nós mesmos, uma identidade equivocada de quem realmente somos.
E quem somos? Acredito muito lá no fundo que somos seres espirituais que existem além do corpo. Isso está claramente expresso no princípio #1 da cura das atitudes: “A essência do nosso ser é o amor”.
Mas não conseguimos (ainda) expressar plenamente essa essência na nossa experiência terrena, e por isso é importante criar um mapa dos aspectos negativos (ego) que habitam o nosso mundo interno.
O ego e o medo
O ego cria uma identidade que está baseada no corpo, que é finito e vai acabar. Ele rejeita a nossa verdadeira natureza espiritual porque acredita somente na matéria.
A mensagem que ele dissemina é carregada de medo.
Medo da solidão, da privação, de não ter aquilo que queremos ou de nos submetermos aquilo que não queremos. Medo da perda. E, por fim, o medo da morte.
O ego escancara o medo de buscarmos e não encontrarmos o que procuramos. Será que consigo chegar lá? Será que sou bom o bastante? Será que nunca terei sucesso? Essas perguntas atormentam a mente de milhões de pessoas.
O ego esconde os planos da nossa alma, pois realizá-los seria a sua derrota.
Ele desconhece o significado do verdadeiro amor, e considera a paz a sua inimiga. Você quer ter razão ou ser feliz?
Enxerga o mundo como um local onde corpos e mentes separados brigam para conseguir mais e mais de qualquer coisa. Faz com que acreditemos que o mundo é um lugar de luta, onde vence o mais forte, o que grita mais, o que tem mais dinheiro e poder.
Ele insiste que a realidade é aquela que os nossos sentidos físicos mostram, e rejeita valores elevados como a compaixão, a apreciação e a empatia.
Usurpa o lugar de Deus na nossa vida (Deus = espiritualidade ou o nome que quiser dar), como diz esse trocadilho em inglês:
EGO = “Easy God Out”, algo como “Deus, saia logo”.
Tipo: Deus, saia logo do caminho que eu quero fazer do meu jeito.
O ego quer ser o primeiro, estar sempre na frente. Quer levar os louros da conquista.
Eu consegui. Eu venci. Eu transformei.
Ego = identificação
O objetivo do ego é a identificação. Ele quer que nos identifiquemos com os papéis que desempenhamos e com nossas opiniões e julgamentos, com o nosso “jeito de ser”.
Quando nos identificamos com aquele papel ou opinião ou julgamento, nos tornamos aquilo. Nossa capacidade de fazer as melhores escolhas diminui. Por exemplo quando digo: “Eu sou assim mesmo, estourado” em todas as situações em que estouro com outras pessoas, então estou identificado com aquele rótulo e minhas escolhas sempre trarão esse viés.
Quando nos identificamos, perdemos a oportunidade de apreciar outros pontos de vista, perdemos a oportunidade de explorar o nosso mundo interior.
Ego = controle
O maior desejo do ego é controle. Ele acha que está no controle da vida, e nos faz acreditar nisso. Esse, porém, é um truque, porque é impossível estar no controle de nada, simplesmente porque qualquer um de nós está sujeito a qualquer acontecimento a qualquer momento de nossa vida.
Isso é um fato inegável! Posso morrer agora, quem sabe?
Quer desafiar o ego? Escreva um cartaz com a frase “Eu NÃO sou imortal” e pregue bem na sua frente. Leia-o várias vezes. Pode ter certeza que ele não vai gostar nada nada de ler isso.
E não vai gostar porque vai se lembrar de que não está no controle, e que é impossível estar no controle. Ele não quer ser colocado frente a frente com a verdade nua e crua: “vou morrer, só não sei quando”.
Observando o ego
Uma das principais tarefas da minha vida é olhar o meu ego de frente. Isso não é uma tarefa fácil, muito menos simples. Aprendi com o tempo que é necessária uma boa dose de coragem para seguir em frente, pois os desafios são grandes e para toda vida.
Uma das minhas práticas favoritas, que me ajuda muito a descobrir facetas do meu ego, é a auto observação.
Imagine uma praça onde muitas pessoas andam de um lado para o outro, podendo se esbarrar. Agora vamos dizer que cada uma dessas pessoas represente um lado seu, como por exemplo “a tímida”, “o zangado”, “a mãezona” ou “o certinho”. Vamos chamá-los de “eus”.
A praça é barulhenta, pois os “eus” falam alto e outros gritam. Alguns ficam escondidos e fica difícil de encontrar. Outros você achará somente mais tarde na vida.
Um desses “eus” tem um jeito diferente. Ele apenas observa. Olha atentamente, observa, vai mais fundo, observa novamente e não julga o que observou.
Ele observa o “eu” tímido e diz: “Ah sim, o meu lado tímido. Até mais” e volta a observar.
E para melhorar a capacidade de observação do “eu observador”, você o convida para subir em uma sacada de um prédio ao lado da praça. Dessa posição, ele será crucial para que você possa identificar os “eus” que se apresentam nas diversas situações da sua vida.
Na prática, você treina esse “eu observador” através da meditação, da atenção plena e da investigação da mente.
E para te dar um empurrãozinho para aprender a identificar os “eus” do seu mundo interior, segue uma meditação.
Meditação do “eu observador”
Reserve um período em que não seja interrompido, e deixe papel e caneta ao lado;
Feche os olhos e preste atenção na sua respiração, no ar entrando e saindo das narinas. Faça isso por aproximadamente um minuto;
Agora, a cada inspiração, traga a atenção para o seu coração, o seu centro. Na expiração, imagine que você está expandindo o amor a partir do seu coração. Faça isso por aproximadamente 3 minutos;
Comece a nomear, na sua mente em primeiro lugar, as formas com a qual você se comporta nas suas interações (ex: ninguém presta atenção em mim - “a excluída”), nos seus julgamentos (ex: explodo e sempre tenho razão - “o irado”) e nos papéis que desempenha na vida (filho, mãe, chefe, etc.);
Faça o processo acima, sem se preocupar em memorizar, por aproximadamente 2 min;
Agora abra os olhos, pegue papel e caneta e comece a anotar todos os “eus” que observou anteriormente, e todos os outros que surgirem no processo de escrita. Procure ser objetiva(o), como “a ciumenta”, “o crica”, “a reclamona”, “o paizão”. E lembre-se de observar não julgando;
Faça o processo acima pelo tempo que achar necessário;
Essa lista que você escreveu é um mapa atualizado de quem habita o seu mundo interior. Use-o com sabedoria. Aqui em “Uma Vida Plena” você tem algumas ferramentas incríveis que te ajudam nisso.
Lista pessoal de “eus”
A lista abaixo é de uma anotação dos anos 90, quando eu aprendi essa técnica. Coloquei o meu nome e um número na frente para descrever cada “eu” que encontrava.
Isso tornou mais forte a identidade do “eu”, como uma marcação que determinava que aquele era um aspecto importante de ser observado.
Luiz 26 - “Eu” aplauso - gosta de ser reconhecido, e quando não é fica triste e chateado, e algumas vezes culpa os outros.
Luiz 32 - “Eu” ambicioso - quer ter sucesso a qualquer custo. Não gosta muito de escutar e passa por cima dos outros para conseguir o que quer, muitas vezes de forma dissimulada.
Luiz 47 - “Eu” salvador - que tem a resposta e a solução para todas as dores do mundo.
Luiz 54 - “Eu” procrastinador - aparece sempre que existe algo que ele não gosta muito de fazer, mas tem que ser feito.
Luiz 67 - “Eu” ansioso - surge sempre que algo foge do controle, como por exemplo, algo que ele espera acontecer e não acontece.
E os “eus” positivos?
E sobre os nossos lados positivos, os “eus” que querem o nosso bem e o bem das outras pessoas?
Sem dúvida, temos que vivê-los hoje mais do que nunca. Temos que ser cada vez mais compassivos, amorosos, acolhedores e gentis, para transformar o mundo a partir de nós próprios.
Porém, não podemos confundir com o falso positivo, que é aquela alegria passageira que vem de um “shot” de dopamina. Vem e vai. Ou aquele amor onde todas as ações estão no condicional - eu te amo se…
Estes na verdade são “eus” que geram mais sofrimento, e precisam ser observados, catalogados e investigados.
Para finalizar
A observação de si mesmo é muito importante nos dias em que vivemos. Como podemos ajudar um mundo tão caótico quando nós mesmos estamos perdidos, sem mesmo saber quem habita em nosso interior?
Quando observamos nossos defeitos sem julgar, podemos começar a investigar os pensamentos que são a causa, e pouco a pouco abrimos a cortina do nosso coração para que a luz de Deus se manifeste cada vez mais dentro de nós.
Com Amor,
Luiz Pontes
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